sexta-feira, 10 de maio de 2013

Biricó de Macaco!!!!!!!!!!!!!!!!!


Em visita ao simpático parque ambiental “Mangal das garças” em Belém — visita obrigatória a bela cidade — me envolvi em uma situação ligada a educação ambiental que quero relatar.
O parque, cabe dizer, é muito bem cuidado, oferece “gotas” de educação ambiental na forma de funcionários, obviamente vestidos com um uniforme verde, que orientam os visitantes no cuidado com o gramado e informam sobre as espécies vivas em exposição como os iguanas, tartaguras-amazônicas, irerês, asas-de-seda, guarás, colhereiros e até flamingos.

Vale comentar que eu, como biólogo da região sudeste, conheço poucas espécies nativas da Amazônia, salvo aquelas usadas a arborização de rua no Rio de Janeiro como o Abricó de macaco(Couroupita guianensis) e a Munguba(Paquira aquática).
Passeando lá,  com minha mulher e minha filh,a me deparei com uma árvore engraçada (no mínimo interessante) desconhecida para mim. Chamei um dos diversos guias locais e perguntei sobre a curiosa árvore de pequeno porte da qual, apesar de não chegar a minha altura, pendiam frutos globosos semelhantes ao “coco”. Perguntei  ao rapaz sobre o nome do arbusto:
  • Companheiro, como é o nome dessa árvore aqui?
E já fui afirmando para me prevenir de uma resposta estapafúrdia.
  • ...Que não é coco eu já sei!
O jovem funcionário me olhou no branco dos olhos e confiante falou com o usual sotaque paraense, para meu espanto:
  •   É biricó-di-macaco, moço!.
Aturdido com a resposta, e com a sonoridade do nome ecoando em meus neurônios, levei uns dois segundos para refletir e retrucar tentando imitar o sotaque para ser melhor compreendido:
  • Rapaz, se quer dizer que é abricó de macaco, é?
Ele olhou novamente e assertivo concluiu:
  •   É sim, senhor!
Claro que “Abricó de macaco” eu conheço, pois é uma espécie bastante usada na arborização do Rio de Janeiro. Sabia que não era por que essa árvore tem um porte bem alto e seus “cocos” são marrons e ásperos ficando grudados no próprio tronco, enquanto a arvoreta-arbustiva tinha frutos verdes brilhantes e lisos que pendiam dos galhos. Então, afirmei convicto:
  •  Olhe... Abricó de macaco, não é não... por que essa, eu conheço, e é bem alta e diferente?
Diante da minha convicção ele complementando sua afirmação contra argumentou:
  •  Então, moço, o “abricó-de- macaco, é aquela árvore lá mais longe(apontando para o estacionamento)...Essa aqui é biricó-di-macaco!
 Divertido, além de ouvir essa confusão, quer seja de identificação, quer seja em relação à nomenclatura regional, foi ouvir minha mulher tentando argumentar que era “plausível” que existissem duas árvores com esses nomes —“abricó” e “biricó”....rs. Obviamente se tratava de um erro de identificação, acrescido de uma inflexão ou variante no nome “abricó.” Claro que minha mulher não concordou!rs

Dia seguinte, visita para conhecer a simpática orla da “vila de Icoaraci com direito a compra de artesanato Majoara. Entre uma cerâmica e outra me deparo com a mesma árvore perto de uma barraca que vendia tacacá e outros petiscos. Comprando uma água para aplacar o calor Paraense arrisquei novamente perguntando ao comerciante, descendente de alguma etnia indígena, sobre a árvore já informando que no Rio de Janeiro não tinha dela  e deu-se o seguinte diálogo:
  • Moço, você sabe que árvore é essa?
  •  “Olhe, aqui nós chamamos de cuieira, cabaceira, cuité...Dessa que usa para servir o Tacacá...
Então, olhando para as cuias eu disse:
  •   Bem que eu sabia que não era “biricó-di-macaco!
 Falei, imitando o sotaque do funcionário do Mangal das garças...para minha mulher. O vendedor, estranhando o meu comentário, disse com um sorriso no olhar já me corrigindo:
  •  Você quer dizer “abricó-di-macaco”? Não é uma árvore bem diferente...vcs não conhecem lá no Rio de janeiro não?
E pronto, minha fama de “conhecedor” de árvores foi para o beleléu em Belém!

Moral ambiental da história: Na medida em que a população foi deixando as áreas rurais e migrando para as regiões urbanas, o conhecimento sobre as espécies vegetais, seus nomes, sua função, histórias, lendas etc  foi decaindo da memória afetiva...E aí, no lugar, fica um empobrecido senso comum.

Abraços.
Tito Tortori

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