Em visita ao simpático parque ambiental “Mangal das garças”
em Belém — visita obrigatória a bela cidade — me envolvi em uma situação ligada
a educação ambiental que quero relatar.
O parque, cabe dizer, é muito bem cuidado, oferece “gotas” de
educação ambiental na forma de funcionários, obviamente vestidos com um
uniforme verde, que orientam os visitantes no cuidado com o gramado e informam
sobre as espécies vivas em exposição como os iguanas, tartaguras-amazônicas,
irerês, asas-de-seda, guarás, colhereiros e até flamingos.
Vale comentar que eu, como biólogo da região sudeste,
conheço poucas espécies nativas da Amazônia, salvo aquelas usadas a arborização
de rua no Rio de Janeiro como o Abricó de macaco(Couroupita guianensis) e a Munguba(Paquira aquática).
Passeando lá, com
minha mulher e minha filh,a me deparei com uma árvore engraçada (no mínimo interessante)
desconhecida para mim. Chamei um dos diversos guias locais e perguntei sobre a
curiosa árvore de pequeno porte da qual, apesar de não chegar a minha altura,
pendiam frutos globosos semelhantes ao “coco”. Perguntei ao rapaz sobre o nome do arbusto:
- Companheiro, como é o nome dessa árvore aqui?
E já fui afirmando para me prevenir de uma resposta estapafúrdia.
- “...Que não é coco eu já sei!”
O jovem funcionário me olhou no branco dos olhos e confiante
falou com o usual sotaque paraense, para meu espanto:
- “É biricó-di-macaco,
moço!.
Aturdido com a resposta, e com a sonoridade do nome ecoando
em meus neurônios, levei uns dois segundos para refletir e retrucar tentando
imitar o sotaque para ser melhor compreendido:
- “Rapaz, se quer dizer que é abricó de macaco, é?
Ele olhou novamente e assertivo concluiu:
Claro que “Abricó de macaco” eu conheço, pois é uma espécie
bastante usada na arborização do Rio de Janeiro. Sabia que não era por que essa
árvore tem um porte bem alto e seus “cocos” são marrons e ásperos ficando
grudados no próprio tronco, enquanto a arvoreta-arbustiva tinha frutos verdes
brilhantes e lisos que pendiam dos galhos. Então, afirmei convicto:
- “Olhe... Abricó de macaco, não é não... por que essa, eu
conheço, e é bem alta e diferente?
Diante da minha convicção ele complementando sua afirmação
contra argumentou:
- “Então,
moço, o “abricó-de- macaco, é aquela árvore lá mais longe(apontando para o
estacionamento)...Essa aqui é biricó-di-macaco!”
Divertido, além de
ouvir essa confusão, quer seja de identificação, quer seja em relação à nomenclatura regional, foi ouvir minha mulher tentando argumentar que era “plausível”
que existissem duas árvores com esses nomes —“abricó” e “biricó”....rs. Obviamente se tratava de um erro de identificação, acrescido
de uma inflexão ou variante no nome “abricó.” Claro que minha mulher não
concordou!rs
Dia seguinte, visita para conhecer a simpática orla da “vila
de Icoaraci com direito a compra de artesanato Majoara. Entre uma cerâmica e
outra me deparo com a mesma árvore perto de uma barraca que vendia tacacá e
outros petiscos. Comprando uma água para aplacar o calor Paraense arrisquei
novamente perguntando ao comerciante, descendente de alguma etnia indígena,
sobre a árvore já informando que no Rio de Janeiro não tinha dela e deu-se o seguinte diálogo:
- “Moço, você sabe que árvore é essa?
- “Olhe,
aqui nós chamamos de cuieira, cabaceira, cuité...Dessa que usa para servir o
Tacacá...
Então, olhando para as cuias eu disse:
- “Bem que eu sabia que não era “biricó-di-macaco!
Falei,
imitando o sotaque do funcionário do Mangal das garças...para minha mulher. O vendedor, estranhando o meu comentário, disse com um sorriso no
olhar já me corrigindo:
- Você quer dizer “abricó-di-macaco”? Não é uma
árvore bem diferente...vcs não conhecem lá no Rio de janeiro não?
E pronto, minha fama de “conhecedor” de árvores foi para o
beleléu em Belém!
Moral ambiental da história: Na medida em que a população
foi deixando as áreas rurais e migrando para as regiões urbanas, o conhecimento
sobre as espécies vegetais, seus nomes, sua função, histórias, lendas etc foi decaindo da memória afetiva...E aí, no lugar, fica um empobrecido senso comum.
Abraços.
Tito Tortori