domingo, 25 de outubro de 2015

Por que há tantas árvores exóticas na arborização urbana do Rio de Janeiro

Uns anos atrás, quando comecei o Projeto MUDAMATA tinha um grande desafio pela frente. Afinal, apesar de ser biólogo, nunca tive muito interesse pelos vegetais e, de quebra, pelas árvores... Então, salvo conhecimentos básicos sobre anatomia e fisiologia vegetal, eu era tão leigo quanto a maioria das pessoas identificando apenas aquelas árvores que faziam parte da minha memória afetiva. Logo, conhecia alguma das árvores presentes na arborização urbana como amendoeiras, oitis e outras tantas frutíferas, O restante entrava na categoria "PLANTÁCEA", como diz minha amiga Frieda Marti, outra bióloga sem muito apego pelas árvores.
Mas, a vida é uma "caixinha de surpresas" e em uma dessas esquinas eu virei e me deparei com ess e desafio.

Foi então que uma realidade se descortinou diante dos meus olhos... 

Descobri depois de algum tempo, que um número considerável das espécies que eu conhecia e que eram adotadas na arborização de rua da cidade do Rio de Janeiro não eram nativas da Mata Atlântica. Nem digo em termos quantitativos, mas certamente no sentido qualitativo.
A causa desse fenômeno? Vejamos...
Mestre Valentim quando  idealizou o primeiro Jardim do Passeio Público, feito para aterrar a Lagoa do Boqueirão da Ajuda, ainda no final do século XVIII, plantou, de forma simétrica e formal, muitas árvores e palmeiras se valendo da maioria de espécies exóticas, principalmente frutíferas, como mangueiras, jaqueiras, fruta-pão, jambo-rosa , tamarindeiro, pinheiros (Pinus sp), dentre outras...

Em meados do século XIX, Auguste Glaziou, o paisagista do Imperador apesar de ter pesquisado e coletado muitas espécies nativas, adotou o princípio europeu de arborização plantando também casuarinas, eucaliptos, grevíleas, flamboyants, figueira-religiosa, estercúlias, ginko biloba, cerejeiras japonesas, papiros egípcios, magnólias, bambus indianos, plátanos canadenses e cedros do Líbano. Devemos a ele a reforma do jardim do Largo do Machado e a introdução de algumas espécies nativas como os Oitis da Mata Atlântica e as Sapucaias (Amazônicas).

No início do século XX, o número de árvores na arborização de rua aumentou muito com o plantio de mais de 22.000 árvores principalmente nos bairros de São Cristovão, Tijuca, Vila Isabel, Centro, Gloria, Catete, Flamengo, Laranjeiras e Botafogo. e novamente as espécies envolvidas eram a amendoeira, casuarina, figueiras, alfeneiro, grevílea, tamarindo, mangueiras, mas algumas nativas foram plantadas como oiti, saboneteira, munguba, sapoti, pau-ferro e carrapeteira.

A análise do documento "Plano Diretor de Arborização Urbana da Cidade do Rio de Janeiro" mostra que a maior parte das árvores identificadas em 2009 nas ruas da Cidade do Rio de Janeiro são exóticas.

Dito isso basta navegar pelo mapa que eu criei com a distribuição geográfica das espécies mais comuns encontradas na cidade do Rio de Janeiro. O mapa não foi ainda totalmente atualizado pelos dados do documento citado anteriormente, mas já nos dá uma boa dimensão de onde vieram as "nossas árvores".


É preciso inicialmente tomar consciência desse fato para depois chegar a uma nova pergunta:
Por que não podemos ter mais árvores nativas em nossas ruas?
Pare, pense e tente responder...
Abraços.
Tito Tortori