Uma lenda vem de muitos anos sendo transmitida na
oralidade dos índios Tupis que viviam na região do Vale do Paraíba e pelos
Tupinambás do Litoral Norte, em registro de Mariza Taguada.
Quando ainda não havia tanta tribo nessa terra, há
muitos e muitos anos, por aqui vivia um jovem e forte guerreiro chamado
Guapuruvu.
Certa noite não conseguindo dormir, por causa de uma
misteriosa inquietação, saiu da rede e caminhou pela floresta mal iluminada por
causa da lua nova. Dentro da mata distinguiu um vulto dourado movendo-se
por entre as folhagens. O corajoso e inconseqüente guerreiro embrenhou-se na
mata atrás daquele brilho, quieto e rasteiro, como uma grande onça.
Guapuruvu, fascinado pela luz dourada chegou à
nascente de um rio e assustou-se ao ver uma linda mulher de corpo dourado e
longos cabelos negros banhando-se nas singelas águas. O mais espetacular era
que as gotas d'águas que a tocavam transformavam-se em pepita de ouro e rolavam
para dentro do rio.
O guerreiro sentiu o coração bater forte e temendo que
a formosa moça percebesse sua presença escondeu-se, permanecendo no mesmo
lugar, hipnotizado, a noite toda, até o dia amanhecer e voltar para a aldeia.
Os dias se passaram e todos da tribo notaram o olhar desvairado que Guapuruvu
lançava à mata e a agitação que tomava conta dele enquanto esperava pela lua
nova... Ansioso para encontrar sua amada.
Assim, na primeira noite da lua nova ficou à espreita
e não viu a linda mulher. Retornando à aldeia nem conseguiu caçar ou pescar. Os
outros perguntavam o que ele tinha, mas ele nada dizia. Na noite seguinte
retornou à trilha do rio. A escuridão era tanta que Guapuruvu tropeçou e
machucou-se nos cipós, galhos e raízes até chegar à nascente do rio. Foi quando
viu uma luz achegando e transformando-se na linda jovem. Inebriado, soltou um
suspiro alto, atraindo a atenção da jovem que, assustada, fugiu deixando para
trás um rastro de poeira púrpura.
Guapuruvu passou horas e horas chorando à beira da
nascente e pedindo para que ela voltasse. A linda moça, depois de passar o
susto, atraída por aqueles lamentos tristes e aquelas juras de amor que o rapaz
não cansava de repetir, apareceu para o jovem guerreiro que, de tanta
felicidade, lançou-se aos pés da amada jurando amor eterno. Ela se
apresentou como a Mãe do Ouro, disse que era a guardiã das
florestas e protetora dos animais. Ia sempre até o rio banhar-se, pois sua
missão era a de criar pepitas de ouro.
Explicou ao jovem Guapuruvu que ela não podia casar-se
com ele, nem dar-lhe filhos como as moças da tribo, mas corresponderia ao seu
amor. Dessa forma nas noites de lua nova o jovem Guapuruvu saía da
aldeia para encontrar e amar a Mãe do Ouro.
Os anos se passaram e o índio guerreiro
envelheceu enquanto que a Mãe do Ouro continuava jovem e bonita. Mas o amor dos
dois não foi afetado por isso. Certa noite ele pressentiu que aquela seria sua
última lua em vida. Já muito velho, com extrema dificuldade, chegou à
nascente do rio onde a Mãe do Ouro já o aguardava. Ele, comovido em deixá-la,
despediu-se suspirando amores eternos.
Abraçaram-se enternecidamente mas quando Guapuruvu
fechou os olhos, transformou-se em uma grande e frondosa árvore de madeira
forte, ereta, ao pé da nascente, pois dessa forma para sempre veria sua amada.
A Mãe do Ouro profetizou que o amor deles seria eternizado nas raízes, no
tronco e nos fortes galhos da árvore Guapuruvu e que a árvore serviria aos
índios quando transformada em canoa de
um pau só. Por isso, quando em noite de lua nova, vemos um rastro de ouro
passeando pela mata é a Mãe do Ouro que vai namorar o Guapuruvu.
Quem sabe, lá pelas altas horas da madrugada, numa
noite de lua nova, ao passarmos pela praça José Molina na Vila Industrial
possamos ver um rastro de luz abraçando o maravilhoso Guapuruvu.