segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Lenda do Guapuruvu


Uma lenda vem de muitos anos sendo transmitida na oralidade dos índios Tupis que viviam na região do Vale do Paraíba e pelos Tupinambás do Litoral Norte, em registro de Mariza Taguada.
Quando ainda não havia tanta tribo nessa terra, há muitos e muitos anos, por aqui vivia um jovem e forte guerreiro chamado Guapuruvu.
Certa noite não conseguindo dormir, por causa de uma misteriosa inquietação, saiu da rede e caminhou pela floresta mal iluminada por causa da lua nova. Dentro da mata distinguiu um vulto dourado movendo-se  por entre as folhagens. O corajoso e inconseqüente guerreiro embrenhou-se na mata atrás daquele brilho, quieto e rasteiro, como uma grande onça.
Guapuruvu, fascinado pela luz dourada chegou à nascente de um rio e assustou-se ao ver uma linda mulher de corpo dourado e longos cabelos negros banhando-se nas singelas águas. O mais espetacular era que as gotas d'águas que a tocavam transformavam-se em pepita de ouro e rolavam para dentro do rio.
O guerreiro sentiu o coração bater forte e temendo que a formosa moça percebesse sua presença escondeu-se, permanecendo no mesmo lugar, hipnotizado, a noite toda, até o dia amanhecer e voltar para a aldeia. Os dias se passaram e todos da tribo notaram o olhar desvairado que Guapuruvu lançava à mata e a agitação que tomava conta dele enquanto esperava pela lua nova... Ansioso para encontrar sua amada.
Assim, na primeira noite da lua nova ficou à espreita e não viu a linda mulher. Retornando à aldeia nem conseguiu caçar ou pescar. Os outros perguntavam o que ele tinha, mas ele nada dizia. Na noite seguinte retornou à trilha do rio. A escuridão era tanta que Guapuruvu tropeçou e machucou-se nos cipós, galhos e raízes até chegar à nascente do rio. Foi quando viu uma luz achegando e transformando-se na linda jovem. Inebriado, soltou um suspiro alto, atraindo a atenção da jovem que, assustada, fugiu deixando para trás um rastro de poeira púrpura.
Guapuruvu passou horas e horas chorando à beira da nascente e pedindo para que ela voltasse. A linda moça, depois de passar o susto, atraída por aqueles lamentos tristes e aquelas juras de amor que o rapaz não cansava de repetir, apareceu para o jovem guerreiro que, de tanta  felicidade,  lançou-se aos pés da amada jurando amor eterno. Ela se apresentou como a Mãe do Ouro, disse que era a guardiã das florestas e protetora dos animais. Ia sempre até o rio banhar-se, pois sua missão era a de criar pepitas de ouro.
Explicou ao jovem Guapuruvu que ela não podia casar-se com ele, nem dar-lhe filhos como as moças da tribo, mas corresponderia ao seu amor.  Dessa forma nas noites de lua nova o  jovem Guapuruvu saía da aldeia para encontrar e amar a Mãe do Ouro.
 Os anos se passaram e o índio guerreiro envelheceu enquanto que a Mãe do Ouro continuava jovem e bonita. Mas o amor dos dois não foi afetado por isso. Certa noite ele pressentiu que aquela seria sua última lua em vida. Já muito velho, com extrema  dificuldade, chegou à nascente do rio onde a Mãe do Ouro já o aguardava. Ele, comovido em deixá-la, despediu-se suspirando amores eternos.
Abraçaram-se enternecidamente mas quando Guapuruvu fechou os olhos, transformou-se em uma grande e frondosa árvore de madeira forte, ereta, ao pé da nascente, pois dessa forma para sempre veria sua amada. A Mãe do Ouro profetizou que o amor deles seria eternizado nas raízes, no tronco e nos fortes galhos da árvore Guapuruvu e  que a árvore serviria aos índios quando transformada em canoa de um pau só. Por isso, quando em noite de lua nova, vemos um rastro de ouro passeando pela mata é a Mãe do Ouro que vai namorar o Guapuruvu.
Quem sabe, lá pelas altas horas da madrugada, numa noite de lua nova, ao passarmos  pela praça José Molina na Vila Industrial possamos ver um rastro de luz abraçando o maravilhoso Guapuruvu.

2 comentários:

Maria Cândida Figueira disse...

Tive a honra de ouvir da Mariza Taguada, esta lenda lindíssima. Desde então, saio a procurar as Guapuvurus!

Tito Tortori disse...

É uma lenda muito interessante! Ouvi dizer que guapuruvu, na língua tupi, significa " canoa que brota do chão"!